quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Montanha dos sete Abutres e o drama dos 33 mineiros da Mina de San José

IVAN CAÇÃO

“A Montanha dos sete Abutres” é um drama de longa metragem dirigido por Billy Wilder de 1951. O filme traz a discussão sobre ética aplicada ao Jornalismo no qual o repórter veterano Charles Tatum (Kirk Douglas) foi despedido de 11 jornais, por 11 razões diversas. Ele está sem dinheiro, então pede a Jacob Q. Boot (Porter Hall), o dono do jornal local, que lhe dê um emprego e consegue. Seu plano era trabalhar ali no máximo dois meses, mas após um ano não surgiu nenhuma boa oportunidade nem aconteceu nada bem interessante que rendesse uma boa matéria. Tatum sente-se totalmente entediado e sem motivação, então recebe ordem para cobrir uma corrida de cascavéis. Aparentemente seria outra matéria sem o menor atrativo, mas ruma para o local acompanhado por Herbie Cook (Robert Arthur), um misto de auxiliar, motorista e fotógrafo. No meio do caminho param para abastecer o carro e Tatum acaba descobrindo que Leo Minosa (Richard Benedict) ficou preso em uma mina quando procurava por "relíquias indígenas". Tatum sente que esta reportagem pode ser a chance que ele esperava, mas para isto precisa ter controle da situação. Ele transforma o resgate de Leo em um assunto nacional, atraindo milhares de curiosos, cinegrafistas de noticiários e comentaristas de rádio, além de forçar Lorraine (Jan Sterling), a mulher de Leo, a se fazer passar como uma esposa arrasada. Na verdade ela ia abandonar Leo neste trágico momento, mas Tatum a fez ver que ela iria ganhar um bom dinheiro na sua lanchonete quando as pessoas chegassem para ver acontecimento. Para prolongar o circo Tatum reduz deliberadamente à velocidade do resgate de Leo, pois o ideal é que permanecesse preso por seis dias e não apenas por algumas horas.

Pode-se notar a semelhança na exploração do drama vivido pelos 33 mineiros presos em uma mina de cobre no norte do Chile, na qual estavam soterrados a uma profundidade de 700 metros desde 5 de agosto. Notamos como principal semelhança os interesses em se aproveitar da desgraça alheia, destacando principalmente as últimas 24 horas que antecede o dia 13 de outubro o qual marcou o fim do resgate dos mineiros. Enquanto a cápsula especial retirava as vitimas do acidente, o presidente chileno “Sebastián Piñera” se vangloriava como um grande líder, um dos principais abutres em cima da carniça. Em seguida o segundo abutre, nosso presidente “Luiz Inácio Lula da Silva”, aproveitava o momento ao vivo e a cores, ligando para Piñera em frente as TVs do mundo todo deixando sua marca registrada de aproveitador de ocasiões. Já o terceiro da lista de abutres, o excêntrico empresário chileno “Leonardo Farkas” querendo aparecer, doa um cheque de US$ 10 mil para cada um; cá entre nós poderia ser uma quantia um pouco maior, isto porque seu nome foi divulgado em jornais do mundo inteiro por apenas US$ 330 mil, ninharia comparado ao que gastaria por tal divulgação. Certo foi o boliviano Carlos Mamani, 24 anos, que recusou a oferta de uma nova carreira pelo quarto abutre: “Evo Morales”. O quinto abutre fica com o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, “P.J. Crowley”, o qual deixou uma mensagem demagogica parabenizando o Chile pelo resgate bem sucedido, “uma mostra notável de esperança e habilidade”. O sexto abutre fica com o papa “Bento XVI” que não poderia deixar de "se" aparecer. O sétimo e pior abutre é a mídia podre sensacionalista que ganhou audiência nas ultimas vinte duas horas. Dê o troféu para “Globo News”, representante do universo televisível.